segunda-feira, agosto 30

Verde saudoso

Minho_ Agosto
Eu Queria Ter o tempo e o Sossego Suficientes


Eu queria ter o tempo e o sossego suficientes
Para não pensar em coisa nenhuma,
Para nem me sentir viver,
Para só saber de mim nos olhos dos outros, reflectido.

Alberto Caeiro, in Poemas Inconjuntos

quarta-feira, agosto 11

Ácido lento

[imagem do google]




Ácido lento
Que me corroi


À volta matéria
Que me corroi...


De um doce cinzento
Que me corroi...


E uma lágrima etérea
Que não me corroi!


Sou fonte de brumas
Em espaços abertos; os Lamentos de cor
Em figuras de som.


jf.

sexta-feira, julho 16

Descobre-te

"Descobri que a leitura é uma forma servil de sonhar. Se tenho de sonhar, porque não sonhar os meus próprios sonhos?"

Fernando Pessoa. O eu profundo.




[imagem do google]

segunda-feira, julho 12

Mergulha em mim


Estou...
Quieta, silenciosa; falta-me o ar
Bem sei, mas em nada parei.

Pedi-te:
Mergulha em mim, emerge do abismo e esquece o cinismo.




Vem
Olha o piano, ouve-lhe o som
A cada tecla surge o tom
São colcheias, semi-colcheias numa dança brutal
E vejo-te assim, com ar fraternal.

Olhas-me...
Teus olhos de um negro letal, fixados aos meus.
Sinto-te só, teu íntimo bem só.
Do nada, juntamos as mãos.

Quarteto formado...
Mãos que deslizam por entre o teclado
Notas aqui, acolá e acoli
Nascem por ti
E morrem por si.

jf.
[imagem do google]

quarta-feira, maio 19

Vixit

Desventura a tua

Negritude vil do espaço
Tudo oco, tudo vão
Cresce a lamúria
E ela grita.
Sôfregos soluços de raiva
Que perturbam
Que predominam, que agitam.
Olhou em volta
E todos riam.
Quis sair, quis partir.
Bateu a porta e seguiu
Onde anda?
Onde está?
Porque nos deixas na penumbra?
Eras luz, eras vida,
Eras o melódico e o magnânimo
Ah! Desventura a tua!
Desse lado vês-nos?
Observa-nos, conduz-nos na escuridão
Faz de nós querubins que voam para a multidão.
Traz-nos a eloquência celestial e agita-nos nesse vendaval.


jf.

[Dedicado à amiga que partiu cedo demais]

quarta-feira, fevereiro 3

Um poema. Um "eu" semelhante

[pintura de Norberto Nunes]


Sonho. Não Sei quem Sou

Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.

Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.


Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

[Um sopro de calma, um ser que esmorece. Alcanço o sonho.]