quarta-feira, fevereiro 3

Um poema. Um "eu" semelhante

[pintura de Norberto Nunes]


Sonho. Não Sei quem Sou

Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.

Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.


Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

[Um sopro de calma, um ser que esmorece. Alcanço o sonho.]

1 comentário:

  1. Minha alma não tem alma.
    Não tenho ser nem lei.
    Coração de ninguém.

    Mas que dramático está o nosso Pessoa...abre as portas do desconhecido, sustenta-te pela viga do contigente e sonha com a janela do impossível onde é possível ser!!

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